Pés envoltos na musga cor daquela terra que brota no interior dos tendões. Como uma extensão biológica o sopro proveniente do solo deixa o útero de seu âmago, buscando encontrar-se para compor seus calcanhares.
A fragilidade da vida integrada conversa na harmonia da despretensão com as novas formas fundidas pela concepção.
Eu tudo vejo e tudo recebo pelos poros da fluidez exteriorizada pela troca simbiótica. A abertura visceral do eu para o mundo… Aquele mesmo que, agora, enquanto infinidade da forma, tudo pode vir a ser, ou deixar de ser, incondicionadamente.
A união angariada disforma a doxa. Desconstrução imaterial das estruturas pré-formuladas. Venho a vir a ser, venho a deixar de ser. E, assim, com a comodidade de uma larva que cospe seus restos amorfos, não mais sou ou não sou, diante da multiplicidade do ser e de sua negação. A anulação do padrão referencial interior se dá pela superveniência negativa ante a afirmativa, e vice-e-versa. E, ainda, não há que se falar em nulidade – se assim a predicamos – mas na suspensão intermitente da manifestação identitária.
A vivência que flutua desconstruída. Os corpos que bóiam no mar. E o mar, contudo, uma possibilidade infinda, latente, escandalosa, de potencialidades combináveis. A onda que crava a auto-destruição se engolindo e renasce no reencontro austero do urgir da nova crista.
Repara a potência latente fadigada pela realidade inclemente.
Mira despede-se dos velhos hábitos e descansa a xícara borrada pelo grão envelhecido na escrivaninha do quarto. Adianta-se à janela irregular, ofensiva, até, tamanho o aleijamento geométrico de sua constituição. A íris âmbar adere à inconstância da madeira maciça e se funde na dubitabilidade do objeto.
As palavras muita vez se riscam nas próprias entranhas. Claro que é o enjoo gutural do sentido – ou, por deus! – de sua falta.
Mira, Mira, Mira! Atraca reincidentemente aquele desgosto de ser o escopo e não a embora desrespeitosa, factual infelicidade (ou felicidade) constituída. O projeto e não a lei. Não o relatório, o esboço. Não a obra, o rascunho.
Ao bom ator se reserva o improviso, e disso se consolam os errantes, bon-vivants, os músicos e os príncipes descoroados pelo mesmo despeito que outrora lhes concederam o título. E que vale o consolo fronte a impetuosidade inflacionada da inquietude anímica? Responderia bem à questão aquela Mira da tarde anilada, não fosse os olhos baixos fixos no pé das castanheiras.