Auto-maternagem

A cabeça no travesseiro, na realidade não procura descanso. O sossego ela encontra na busca pelo seu alimento próprio, um sentido de aluguel. A partir do momento que da cama renuncia, que dos sonhos traz apenas a inconsciência e que da porta carrega o vento de sua cerradura, uma escolha é fincada diante dos olhos e do tapete que a austeridade apenas observam. Os olhos, no entanto, visam acompanhar o caminhar da mente, que do caminhar salta a uma corrida alucinante pelo cobiçado desconhecido. E é tudo flores, é tudo casas, é tudo amontoado de gente. Gente feliz, triste, arrogante, miserável, em suas misérias. Em suas fortunas. Gente que ri o riso no ponto do ônibus, gente que traga a vida com a abstinência de um viciado. Ou gente que é tragada por ela? Não se sabe. Sabe-se que o senhor do sebo caminha sem pressa, nas pernas arqueadas. Que a mulher jovial é confidenciada pela companheira do período, como o rouxinol ao ar presenteia o mel da melodia. A cabeça igniça e exige mais da estrutura corpórea. É tanta coisa! Coisa que antes não alvejou o olhar. É riqueza de cores. É o sub amontoado ao sobre. É a cultura de todos, e cultura é de ninguém. E ninguém são tantos… Ninguém é a cabeça que rodopia no formigueiro das ruas. Ela busca mas não encontra. Não fossem busca e desencontro, escolha alguma maternaria-se. E quem é que traz oportunidade madura dos pés?

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